quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Detesto



Abomino o perpétuo sorriso,
Estampado gratuitamente,
Plasticamente,
Artificialmente,
Equivocadamente,
Na face de quem trabalha com o turismo.

Aquele atendimento padronizado,
Com texto decorado,
Visando sempre algum lucro
E classificando o turista como burro.
Chega, a alguns, até, a enganar,
Mas é de amargar.

Um grande problema nas cidades pequenas,
Com suas estreitas rendas,
É a falta de opção
De trabalho para a população.
Na faixa litorânea,
A escolha nunca é espontânea.
Como em todas as áreas, nessa também,
É preciso ter vocação, para ir além.

Lidar com público é, realmente, desgastante.
Algumas vezes, desestimulante.
Nunca se sabe como vai reagir,
Ou se está interessado em interagir...
A esmagadora maioria ganha pouco,
Por isso corre atrás das comissões,
Das indicações,
Para sair do sufoco.

Ainda assim, em alguns casos, os patrões,
Ficam com parte desse dinheiro.
Complicando a situação por inteiro,
Apertando dolorosamente os grilhões...
Enquanto o cidadão,
Sonha com a vida metropolitana que vê na televisão.
Dentro de sua visão,
Não consegue discernir a ilusão...

Também, é normal, nesses lugares,
O despreparo do “pseudo empresário”
Que só quer saber do numerário...
Trata o hóspede como otário,
Aplicando-lhe malfadados contos do vigário...
Os textos que ouvi desses senhores,
Alguns, me causaram estranhos tremores...

De tão absurdos,
De tão obtusos!
De tão amadores
Em seus egoístas clamores!
Saem das cidades grandes, acreditando que vão arrasar...
Que, de ganhar dinheiro fácil, vão se cansar!

Chegam aqui, encontram a dura realidade
E descarregam a sua frustração,
Abusando da exploração
Tanto do funcionário, quanto do turista.
Um autoengodo, sobre todos os pontos de vista!
Uma postura que beira à calamidade.

Nesse quadro confuso,
É toscamente valorizada a figura do puxa-saco...
É o responsável por alimentar o ego profundo
Colossal,
Abismal,
Perturbado,
Do proprietário...
Em seu difuso itinerário.

Encastelado em sua própria ignorância,
Abastecido por sua inesgotável arrogância,
O dono do negócio,
Amante frustrado do ócio,
Orienta o elenco a perpetuamente sorrir,
Para melhor seduzir.
Instrui algumas brincadeiras,
Que, obviamente, rolam a ribanceira...

Institucionaliza um texto padrão,
Que deve ser usado sem exceção...
Uma postura pré-moldada,
Inspirada, certamente, na arquibancada...
Sem perceber
O terrível e imperdoável engano que está a cometer,
Privando a espontaneidade,
Da hospitalidade!



Texto escrito em Paraty - RJ

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