quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Cenário Teatral



Noite chuvosa.
Abro a janela, explode a visão
Da calma em sua precisão.
Sou tomado por uma inspiração furiosa.

Sobre a madeira da varanda,
A placidez tamanha...
Em formação triangular,
Três gatos a me olhar.

A luz da varanda apagada,
A quadra por um único poste iluminada.
As copas das goiabeiras,
Com seus desenhos sombrios.
O ar um pouco frio.
Ainda bem que em casa não há goteiras...

Só a parte da frente do quintal,
Sob a luz da rua.

O céu sem lua!

Tudo tão cenograficamente teatral...

Uma plasticidade!

A simplicidade,
O bom gosto do desenhista,
A mensagem subscrita,
A perfeição circunscrita...

A sensibilidade irrompendo em conquista!

A orquestra de rãs, com sua sinfonia,
O sino dos ventos com sua coreografia,
O som da chuva hipnotizante...
A harmonia navegante!

Tudo cheirando a molhado.
Eu, quase, embasbacado...
As poças d’água,
O regalo da alma.

Nem sei...
Só sei que transbordei...

Desvencilhei-me do tempo.
Queria olhar por dentro,
Do que estava à minha frente.
Mergulhei impunemente.

Despi-me até o centro.
Desejava o âmago do ensejo,
Para tentar apreender,
O que estava a perceber:

As mais antigas respostas
Que se abrigam no intervalo das horas,
Nas dobras,
Nas sombras das sobras.

Lembrei-me imediatamente,
Claramente,
Da sensibilidade da obra da escritora e amiga
Juli Lima!

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