quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Resposta à Minha Amiga Déda



A vida manifesta só me ocupa uma parte.
Descoberta essa, feita através da arte.
Há mais, bem mais aqui dentro,
Quieto, calado, no centro...
Todo um compartimento intacto,
Que não se quer revelado.
Não está efetivamente pronto, codificado.
Ainda pulsa meio descontrolado.

Em alguns momentos toma à frente,
Quer chamar a atenção de toda a gente.
Quer revolucionar,
Quer desnortear,
Abrir a boca,
Deixar a multidão louca.
Acabar com a festa dos tiranos,
Alinhar todos os meridianos,
Numa determinada harmonia,
Que facilite a mais fina sintonia!

É quando entra em cena o bom senso,
Com sua sabedoria e cajado,
- Patrimônio conquistado -
Contendo o ímpeto a tempo,
Antes de cometer um memorável estrago,
Que por muito tempo seria lembrado...
Ainda não é o momento,
De se bradar esse alento.
O lugar desse grito, ainda é na garganta,
Onde, lentamente, se agiganta.

Mesmo quando minha vida se torna intensa,
A fome é imensa...
Só sessenta e cinco por cento, ou menos, entra em ação.
Mais ou menos trinta e cinco,
Pelo menos é como me sinto,
Fica sentado, com a cabeça apoiada na mão,
Observando atentamente,
Reparando,
Analisando,
Tudo, minuciosamente.

A parte digerida,
É transformada em poesia.
A outra fica ruminando,
Passeando,
Deslizando,
Pela atônita mente.
A ideia é unir os pontos,
Ligar os dados tantos,
Em busca de explicação,
Para a sempre surpreendente constatação.

Quando aparece a ansiada conclusão,
Aí é a vez do coração:
Inunda-me uma avassaladora emoção
Que a tudo toma, do céu ao chão...
Fico todo sensível,
Na presença inebriante do incrível.
Tombo a bombordo,
Transbordo...
Naufrago...
Para no final, erguer-me alado.

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