domingo, 12 de julho de 2009

Caiçara


Quando se mora longe dos grandes centros
Muda a relação com a terra, por dentro
Desenvolve-se uma comunicabilidade
Que desperta um tipo específico de sensibilidade
Próxima à dos índios, independente de suas crenças
Uma intuição que guia o final da sentença
O tempo, o solo, o mar, a temperatura
Alteram o contato com a altura
Impactam muito mais forte que na cidade
Impõem sua imprevisibilidade
Sem estação de tratamento intermediária
Sente-se internamente
Profunda e ininterruptamente
As alterações planetárias
Todo o movimento de seu grande corpo
Reflete-se discretamente no rosto
Tanto no desgosto
Quanto no gozo

O contato mais íntimo com a terra
Com os segredos inaudíveis da serra
Parece que redireciona o foco
Com seu insubstituível colo
A mente se expande
Em direção ao que até agora estava ao fundo...
Com uma fome voraz abrange
Interessa-se muito mais pelo oculto
Pelo primeiro e verdadeiro sentido
O fato incontestável e autoexplicativo...
Aquele estado de consciência
Que pede ao ego paciência
Que se afaste
Que se arraste
Com sua inútil represa
Compota de frágeis certezas
A razão se agacha
E tudo se encaixa

Simples assim
Não existe fim
Apenas transformação

Nenhum comentário: